SANTIFICADOS PELO MARKETING.

SANTIFICADOS PELO MARKETING.

A Era da Aparência Religiosa.

SANTIFICADOS PELO MARKETING.

 

Ah, os pastores modernos: verdadeiros empreendedores da fé, mestres na arte de transformar devoção em espetáculo e pecadores em investidores. Eles não apenas pregam o evangelho — não, isso seria demasiado simplório — eles o monetizam, o embalam, o glamourizam em um show pirotécnico de milagres instantâneos e promessas tão infladas quanto suas contas bancárias. A fé, essa chama íntima que deveria arder silenciosa no coração, hoje virou luz de led piscando ao ritmo frenético de “Glória a Deus” ensaiado para stories.

Sim, porque na era da fé instagramável, não basta ser salvo — é preciso parecer salvo. Bíblia sob o braço, versículo no feed, emoji de oração a cada comentário. E o pastor? Ah, o pastor é a estrela absoluta desse circo sagrado, posando de guia espiritual enquanto gerencia com maestria suas planilhas de lucros e suas reuniões de marketing divino. Um verdadeiro CEO da salvação, com metas trimestrais e, quem sabe, até bônus celestial.

E as multidões? Fascinadas, encantadas, dóceis como cordeiros conduzidos ao abatedouro do bom senso. Porque, convenhamos, questionar dói. Pensar cansa. Muito mais fácil entregar a alma (e o cartão de crédito) nas mãos do pastor, esse intermediário entre o céu e o boleto bancário. Ele chora? Você chora. Ele pula? Você pula. Ele diz que Deus quer um “sacrifício financeiro”? Você abre a carteira e chama de bênção. Uma coreografia coletiva tão previsível que até roteiristas de novela teriam vergonha de escrever.

O mais irônico? Essa performance grotesca da fé consegue se vender como algo profundo, autêntico, quase revolucionário. É o velho truque da embalagem: coloque um terno bem cortado, acrescente um discurso inflamado e uma pitada de “revelações divinas” (essas, curiosamente, sempre muito vagas ou extremamente lucrativas), e pronto: a plateia aplaude de pé, entre lágrimas e aplausos, acreditando piamente que está diante de um ungido — quando, na prática, só está diante de mais um ator, muito bem ensaiado e, diga-se, pago à altura.

A “aparência de fé” virou um modismo tão enraizado que já se confunde com a própria essência. O que importa não é a transformação interior, mas a performance exterior: quem ora mais alto, quem jejua mais dias (desde que poste a selfie no final), quem decora mais versículos para usar como arma em debates inúteis nas redes sociais. Fé virou concurso de popularidade, e o prêmio? A ilusão confortável de estar entre os “escolhidos”, mesmo que a vida siga tão vazia quanto o sermão do último domingo.

E o poder desses pastores não vem apenas do palco: vem da habilidade cirúrgica de capturar inseguranças, medos e esperanças e transformá-los em moeda corrente. Cada problema vira oportunidade, cada dúvida uma nova campanha, cada crise pessoal um pretexto para reforçar a dependência — não de Deus, mas da figura carismática que se apresenta como única ponte legítima entre o fiel e o divino.

Mas, claro, tudo isso é feito em nome da fé. Porque nada diz “desapego material” como a construção de mega-templos enquanto os fiéis fazem vaquinha para pagar a construção. Nada diz “humildade” como um jatinho particular adesivado com um versículo bíblico. Nada expressa mais “amor ao próximo” do que demonizar quem ousa levantar uma sobrancelha crítica.

E, no fim, sobra a pergunta incômoda: será que ainda há espaço para uma fé silenciosa, verdadeira, despida desses adereços circenses? Ou estaremos todos, mais cedo ou mais tarde, dançando ao som desse mesmo coro ensurdecedor, onde aparência vale mais que essência, e o pastor é mais estrela que qualquer ensinamento que ouse citar?

A resposta, como sempre, ecoa no vazio das palmas ensaiadas.

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1 - ESTÁ NA HORA DE DESCOBRIR ALGO NOVO.

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